FARMACIA DE LOMAR

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Quais as causas e tratamentos para a infertilidade em Portugal

Foi lançado no passado dia 08 de Abril, no canal do youtube farmácia de Lomar, o #5 episódio do podcast da Farmácia de Lomar, o PODterSAÚDE. 

Neste #5 PODterSAÚDE trouxemos um tema que é cada vez mais um problema comum e crescente entre os casais: a Infertilidade

Para isso tivemos como convidada, para nos esclarecer sobre o tema, a Dra. Fedra Rodrigues, licenciada em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto. Fez a especialidade em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital de Braga que concluiu em 2015. Recentemente, prestou provas publicas para o Grau de Consultor em Ginecologia e Obstetrícia com aprovação, no Centro Materno-infantil do Norte, Porto. Foi responsável pela Consulta Hospitalar de Apoio à Fertilidade do HB de 2015 a 2020. Fez uma especialização em Medicina Reprodutiva na IVI - Global Education. Sendo hoje uma especialista com experiência em Ginecologia e Obstetrícia

À Dra. Fedra foram colocadas algumas questões sobre o tema e respondidas de forma a nos esclarecer e ajudar a solucionar este problema crescente entre muitos casais em Portugal. 

  • O que é e quando pode ser identificado um caso de infertilidade?
Em primeiro lugar, é importante referir que a reprodução humana é um processo de baixa rentabilidade e que requer tempo, ao contrario de outras espécies. Ou seja, é importante que haja a consciência que mesmo em situações normais e ideais a probabilidade de gravidez em cada ciclo menstrual é de apenas 20-25% e que o tempo medio para se conseguir uma gravidez é de 6 meses (mulheres < de 35 anos)
A Organização Mundial de Saúde, define a infertilidade como a incapacidade de um casal conseguir uma gravidez após um ano de relações sexuais desprotegidas. No entanto, as recomendações atuais vão no sentido de se iniciar o estudo da infertilidade em mulheres acima dos 35 anos e cuja gravidez não ocorra em 6 meses. 
Estima-se que a infertilidade afete 9% dos casais portugueses.
  • Quais são as causas mais comuns de infertilidade
Podemos dividir em 4 grupos: 
1) Causas femininas (responsáveis por 30% dos casos): problemas ovulatórios, endometriose, obstruções ou lesões das trompas de Falópio, anomalias uterinas. 
2) Causas masculinas (responsáveis por 30% dos casos): alterações a nível testicular, obstrução de dutos, patologias na próstata, alterações na ejaculação ou ereção e alterações no esperma. 
3) Causas mistas (responsáveis por 20 %): existe fator feminino e masculino. (importante mesmo que esteja identificada uma causa feminina – anovulação, pedir um espermograma, não esquecer o estudo do elemento masculino) 
4) Idiopáticas (20 %), ou seja, não foi possível identificar a causa.
Na minha prática clínica diria que a anovulação, a endometriose e o fator masculino são as causas mais comuns."
  • É realmente um facto que os casos de infertilidade têm aumentado? Se sim, a que se deve isso?
O adiar da gravidez, ou seja, a idade da mulher é um fator muito relevante! Em Portugal, a idade média da mulher no primeiro filho passou de 26 anos no ano 2000 para os 31 anos em 2019.
As causas são várias para o adiamento do projeto da parentalidade, temos fatores socioeconómicos (formação académica prolongada, investimento na carreira profissional e/ou estabilidade económica tardia), ausência de companheiro(a) e o acesso generalizado aos métodos de contraceção, potenciam o adiar da gravidez."
  • Mas o porquê de a idade ser tão importante? É igual para a mulher e o homem?
É incontornável, a fertilidade diminui com a idade, sendo o declínio mais rápido na mulher. Aos 35 anos, as mulheres são 50% menos férteis que aos 25 anos e aos 40 anos menos 50% que aos 35 anos. 
A mulher nasce com um número finito de óvulos (gâmetas femininos), ao contrário do homem que produz periodicamente espermatozoides (gâmetas masculinos). A reserva de óvulos é consumida sem reposição e o declínio é contínuo, embora mais acentuado após os 35 anos. Para além da redução da quantidade de óvulos com a idade, a qualidade também diminui, contribuindo para o insucesso reprodutivo. A probabilidade de gravidez por mês aos 30 anos é de 20-25% e aos 40 anos é de 5-8%. 
A mulher além de enfrentar o declínio da fertilidade com a idade, vê-se também com maior risco de abortamento. Há também um aumento da incidência de complicações obstétricas do segundo e terceiro trimestre da gravidez com a idade, nomeadamente, hipertensão arterial, diabetes gestacional, parto prematuro e hemorragias. A gravidez em mulheres com idade avançada deve ter uma vigilância adequada com o intuito de prevenir, diagnosticar e orientar precocemente as complicações."
  • O que aconselha às mulheres que planeiam engravidar mais tarde?
O principal é estar informada que adiar o projeto de parentalidade para depois dos 35 anos aumenta significativamente a sua subfertilidade/infertilidade. Mulheres que desejam adiar a sua maternidade, devem ponderar a possibilidade de preservação de ovócitos. O melhor momento para preservar a fertilidade é antes dos 35 anos. A partir dos 38 anos, embora se possa realizar, não é o ideal, uma vez que a qualidade dos óvulos já não será tão boa, o que diminui as probabilidades de uma futura gravidez."
  • Como funciona a criopreservação de ovócitos?
“O tratamento de preservação da fertilidade consiste na obtenção e conservação dos óvulos para futura utilização. É usada a técnica de vitrificação, uma forma específica de congelação dos óvulos, que são conservados a -196 o C, mantendo intactas as suas características.
A preservação da fertilidade começa com a estimulação ovárica para obtenção do máximo número de óvulos. Este passo demora entre os 10 - 12 dias, consiste na administração de injeções de hormonas que estimulam o desenvolvimento de múltiplos óvulos dentro de cada ovário. Depois realiza-se a punção, que consiste na aspiração dos óvulos, com uma duração de 15-20 minutos. É realizada no bloco operatório e sob sedação, para que não haja dor. Acede-se aos ovários através da cavidade vaginal, onde são aspirados os óvulos e são recolhidos em tubos, para serem levados para o laboratório de fertilização in vitro, onde serão vitrificados. Os suportes com os óvulos vitrificados são armazenados em tanques específicos, que mantêm constantes temperaturas muito baixas e contam com um duplo sistema de alarme para garantir que a temperatura permanece sempre no intervalo ideal.
A preservação da fertilidade não permite garantir uma futura gravidez, mas sim a hipótese de tentá-la com um tratamento de fertilização in vitro com as mesmas probabilidades que teria tido no momento da vitrificação."
  • Durante quanto tempo é que se pode preservar os óvulos?
A vitrificação é um processo muito seguro que garante a viabilidade dos óvulos após a desvitrificação sem afetar a sua qualidade ao longo dos anos. Contudo, de acordo com a lei portuguesa atual, só é possível manter gâmetas vitrificados durante um máximo de 10 anos."
  • Se a mulher nasce com um número finito de óvulos, que se vão esgotando com o tempo, há alguma forma da mulher avaliar a sua reserva ovárica?
Sim, há, trata-se de uma análise de sangue a uma hormona, a Hormona Antimulleriana (AMH). A AMH é produzida pelos folículos primordiais e é um bom indicador da reserva ovárica e da capacidade reprodutiva. Conforme o valor da AMH, sempre ajustado à idade, a mulher em discussão com o seu Ginecologista pode ter de reformular os teus planos reprodutivos ou, então, mantê-los com maior tranquilidade. 
Ou seja, se a:
- HAM estiver normal - significa que a mulher tem uma boa reserva ovárica e pode adiar a maternidade com maior tranquilidade ou ponderar uma criopreservac
̧ão de ovócitos antes dos 35 anos.
- HAM baixa, significa uma quantidade reduzida de óvulos disponíveis, é será aconselhável não adiar a gravidez, pois o tempo irá agravar a situac
̧ão.
  • O que podemos fazer para aumentar a Fertilidade?
Eu diria que os potenciadores da Fertilidade são:

1. Alimentação variada e equilibrada
2. Exercício físico na medida certa, nem muito nem pouco
3. Sono adequado e regular
4. Saber relaxar e evitar o stress
5. Ter um acompanhamento médico regular de rotina
Deve ser evitado todos os fatores que influenciam negativamente a fertilidade, destaco 3:
1. Obesidade - causa disfunção ovulatória e degradação da espermatogénese. Uma perda de peso de 5-10% pode ser suficiente para restaurar a fertilidade. 
2. Consumo de tabaco, álcool (em excesso) e drogas – causam alterações na ovulação, diminuição da mobilidade espermática, além dos elevados riscos para o feto. 
3. Infeções sexualmente transmissíveis - A infeção por Clamídia, praticamente assintomática, pode ter consequências graves causando a obstrução das trompas impedindo a fertilização do óvulo pelos espermatozóides. Evitar comportamentos sexuais de risco preserva a fertilidade."
  • Quando se deve agendar uma consulta de Fertilidade?
“Para os Casais saudáveis, sem fatores de risco e quando a mulher tem menos de 35 anos: Deve procurar ajuda após 12 meses de atividade sexual desprotegida e frequente. 
Para casais com mais de 35 anos, antecedentes de tratamentos ou doenças que possam afetar a fertilidade, como tratamentos para o cancro, doenças autoimunes, cirurgias pélvicas ou testiculares, ou uma história familiar de menopausa precoce ou familiares que necessitaram de tratamentos de reprodução assistida, é recomendável procurar ajuda médica após seis meses de tentativas sem sucesso. 
Para casais com problemas ginecológicos, como dores muito intensas durante o ciclo menstrual, ciclos muito irregulares, se apresenta uma disfunção sexual ou o companheiro tiver histórico de patologia/trauma testicular, devem procurar uma avaliação o quanto antes."
  • Quem pode realizar tratamento de procriação medicamente assistida em Portugal?
Em Portugal, a partir de 2016 foi alargado a possibilidade de técnicas de procriação medicamente assistida a todas as mulheres. Portanto, todas as mulheres independentemente do estado civil e da respetiva orientação
sexual. No entanto, através do SNS há um fator que limita a entrada em tratamento de PMA que é a idade, por exemplo a FIV só é possível em mulheres com menos de 40 anos."
  • Quais os exames iniciais para estudar um casal com dificuldade em engravidar? 
Homem: Espermograma para avaliar as características do sémen e serologias. 
Mulher: Análise hormonal e serologias. Ecografia ginecológica de avaliação do útero e ovários. Exame de permeabilidade tubar (se espermograma normal) para verificar se, pelo menos, uma das trompas é perfeitamente funcional."
  • Existem cada vez mais opções de tratamento para a infertilidade. Quer-nos falar um bocadinho sobre algumas dessas opções?
A escolha entre os vários tratamentos de infertilidade depende da causa da infertilidade, idade, histórico médico e dos resultados dos exames. 
Em mulheres com ciclos irregulares, anovulatórios, faz sentido após o estudo adequado e, por exemplo, perante o diagnóstico de SOP iniciar indutores da ovulação, que consiste na administração de medicamentos que estimulam os ovários a funcionar. Esta abordagem pode ser realizada durante 6 meses. É aconselhado realizar um espermograma e ponderar avaliação das trompas. 
Perante uma infertilidade há vários tratamentos de procriação medicamente assistida, de uma forma simples temos: 
1)  Inseminação artificial: consiste na introdução de esperma de cônjuge ou de dador, previamente tratado em laboratório, no útero no momento próximo da ovulação. Vantagens: Sincronização e encurtar o percurso a percorrer pelos espermatozoides. 
2)  Fertilização in vitro (FIV-ICSI): a fertilização do óvulo pelo espermatozoide é realizada em laboratório (in vitro) e não no interior do corpo da mulher. Numa primeira fase requer a estimulação dos ovários para obter vários óvulos que são extraídos por punção ovárica e, uma vez fertilizados no laboratório, são depositados no útero. Este método é frequentemente utilizado em casos de obstrução das trompas de Falópio ou endometriose.
3)  Doação de óvulos ou esperma: Quando um dos parceiros não pode fornecer gametas saudáveis, pode-se recorrer à doação. Por exemplo, em casos de falência ovariana prematura ou azoospermia. 
4)  Método ROPA /Fertilização Recíproca: Permite que duas mulheres que formam um casal partilhem o processo de fecundação in vitro de maneira ativa, sendo uma delas a mãe genética ao fornecer o óvulo do bebé e a outra a mãe biológica ao ficar grávida. 
5)  Adoção de embriões: São transferimos embriões doados. Estes provêm de quem já completou o desejo reprodutivo, mas possui embriões vitrificados excedentes, de acordo com a legislação em vigor, podem ser doados a outras mulheres ou casais, dando-lhes a possibilidade de ter um filho."
  • Pela sua experiência, a maioria são casos de sucesso aos tratamentos ou nem por isso?
As taxas de sucesso variam com diversos fatores. Mas de uma forma simples: 
Na Inseminação artificial as taxas de gravidez nunca ultrapassam os resultados que a natureza oferece nas relações desprotegidas num casal fértil e ronda os 20%. A taxa de gravidez acumulada após 3 inseminações é de 40%.
Na Fecundação in Vitro as taxas de gravidez rondam os 68%.
Na FIV com ovócitos de dadora as taxas rondam os 77% porque não depende da idade da mulher recetora.
Na Adoc
̧ão de embriões as taxas de gravidez rondam os 60%."
  • A técnica de FIV tem taxas melhores do que o que a natureza oferece, porquê
“Primeiro, porque na FIV há um processo de estimulação ovárica, que faz com que ocorra o desenvolvimento de vários óvulos; dessa forma, o crescimento e o amadurecimento dos folículos são controlados, o que aumenta as hipóteses de gravidez por haver mais de um óvulo que pode ser fecundado e vir a desenvolver-se e ser embrião viável. 
Em segundo, A amostra de sémen é processada em laboratório com o objetivo de selecionar os espermatozoides com melhor qualidade.
Depois os embriões são cultivados em laboratório com supervisão e controle constante para selecionar o embrião com maior potencial para implantação.
E por fim, é feita a preparação do endométrio de forma a transferir o embrião no momento ideal."
  • Existe um limite de idade para os tratamentos de Procriação Médicamente Assistida em Portugal?
Em Portugal, o limite de idade legal para tratamentos de PMA é de 49 anos e 364 dias. 
  • Ouve-se muitas vezes falar de casos de casais que tiveram anos a tentar engravidar e quando por fim desistem, passado um tempo, a gestação acontece. Isto é assim tão normal acontecer? Porquê?
Sim, é relativamente comum ouvir histórias de casais que enfrentaram dificuldades para engravidar e, após desistirem ou relaxarem na busca ativa pela conceção, acabam por conceber naturalmente, enquanto estão a aguardar os tratamentos. Este fenómeno, conhecido como "gravidez espontânea após infertilidade", pode ocorrer por várias razões: 
1. Redução do Stress: O stress e a ansiedade podem afetar negativamente a fertilidade. Quando os casais desistem ativamente de conceber e reduzem o stress associado à tentativa, isso pode, paradoxalmente, aumentar a probabilidade de engravidar. 
2. Melhoria da Saúde: Durante o período em que estiveram a tentar engravidar, muitos casais adotam hábitos de vida mais saudáveis, como alimentação equilibrada, exercício regulares e redução do consumo de álcool e tabaco. Essas mudanças podem melhorar a saúde geral e, por consequência, a fertilidade. 
Para concluir a Dra Diana Amaral, diretora técnica da Farmácia de Lomar, alertou para o facto de a farmácia de Lomar estar preparada para apoiar todos os casais que passam por todo o processo de infertilidade, com uma palavra de apoio, conselho e também com toda a medicação necessária para garantir o sucesso de todo o processo. 
Ouça toda esta conversa inspiradora AQUI e cuide do seu sono, cuide de si. 

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